swimming in the water..."
Caminhava sob a chuva, e enquanto observava o céu com seu brilho fosco esperou por um milagre. Milagres não costumam cair do céu, ao contrário de bosta de pássaros... ou suicidas. Então o céu continuou com seu brilho fosco e ele deixou a espera, antes que fosse atingido por bosta de pássaros coléricos ou por algum suicida oportunista. Seguiu cabisbaixo, sem rumo numa pequena cidade que, não raro, lhe parecia tão grande. A chuva molhava as ruas e ele sentia em todo aquele cenário uma tristeza que quase podia ser tocada, e a tocaria, caso não estivesse usando luvas de tecido tão grosso. Inspirou o ar gélido, mas não queria que tudo aquilo soasse torvo ou melancólico, já que não era a tristeza estética o maior dos seus infortúnios. Era a frustração da busca inatingível e do caminhar passo a passo que o dissolvia lentamente sob as gotas pesadas. Foi numa esquina suja que viu uma loja, uma loja de peixes e aquários, de pintura descascada e vitrine empoeirada; e no menor deles, redondo como bola de cristal, havia um pequeno peixe. O vendedor, já ao seu lado, ofereceu o produto (dentre outros produtos). Ele recusou. Não queria levá-lo consigo - aquele peixinho nadador -, assim como não queria que a chuva cessasse. Apenas o admirava. E lamentava. E invejava aquele delicado peixe dourado, com sua frágil e enigmática memória de três segundos...
