
Meu morcego de estimação continua planando pelos corredores. Decidi dar um nome para o bicho, já que agora posso considerá-lo parte da família, mas não consegui pensar em nenhum nome que fizesse jus a ele. Então decidi chamá-lo de Morcego. E enquanto meu morcego Morcego abre suas asas na escuridão, os problemas somados a cada dia me fazem desejar um pouco de caos. Em O Cavaleiro das Trevas o caos é personificado pelo Coringa, ao passo que em V de Vingança Alan Moore o personifica em V. É curioso perceber que as duas personificações atribuem conotações opostas ao conceito da palavra: Enquanto o Coringa provoca o caos movido pela sua "maldade" e patologia (que não ouso interpretar, já que a cada estória um psicanalista o interpretaria de uma forma, e veja bem, não sou e não serei psicanalista...), V causa o caos a fim de que os problemas acumulados sejam eliminados em suas fundações, eliminações essas que possibilitam um recomeço digno (também não pretendo refletir sobre a condição de terrorista que V assume, porque é fato que V é uma figura maquiavélica, que encara suas ações como último recurso para alcançar seu objetivo nobre). A questão que deixo é a seguinte: o caos liberta, possibilitando um recomeço digno, ou destrói em meio à sujeira os alicerces que possibilitam as pequenas reformas que conduzem às grandes? Devemos desejar o papel do Coringa, aceitando a loucura passível do "jogar tudo pro alto", ou devemos desejar a nobreza do mascarado V, e destruir as nossas fundações enfermas, na esperança de que os recomeços ideológicos sirvam de guia na direção a ser tomada? Pode parecer uma escolha fácil, mas hoje sei por experiência que nem tudo é o que parece.