
Me conta sobre aqueles nossos dias de comida improvisada e intimidade à flor da pele, e aquelas nossas tardes de vinil gasto e confissões. Me enterra no peito as lembranças do nosso laço de vidas passadas e do amor que o passado-presente moldou nas estradas que um dia percorremos juntos. Me faz sentir de novo o gosto do vinho barato que compramos quando tínhamos o mundo bem amarrado nas nossas mãos, e traz de volta o tom de sépia que coloria as nossas fotografias orgânicas com tinta de novidade. Tira do guarda-roupa aquela samba-canção minha que agora é sua, e vem deitar na minha cama que, amarrotada, ainda guarda o seu cheiro de flor; e joga no meu chão de tacos escuros aquelas nossas idéias revolucionárias que faziam reluzir os nossos corações de estandarte. Me conta onde vão parar os momentos de miudeza, que tiram meu sono durante a madrugada e fincam no meu estômago um prego cego de dor. Onde foram parar os nossos pequenos tesouros? Onde fomos parar...?