Já faz algum tempo que eu tenho me impressionado com algumas invencionices da web. Curioso pensar que hoje em dia eu posso caminhar pelas ruas das maiores cidades do mundo através de um recurso que o Google Maps oferece; curioso pensar que eu posso escutar músicas selecionadas de acordo com os sentimentos vigentes do dia acessando o StereoMood. Melhor ainda é saber que através da Wikipédia eu posso ler – numa colagem híbrida de fatos e ficção – histórias e teorias que virão a alimentar as histórias que escorrem dos meus dedos.
Aos meus olhos a Wikipédia já nasceu romanceada, e digo isso pelo simples fato de que os conteúdos ali presentes são escritos por você e por mim, por qualquer pessoa que tenha o interesse em contribuir com o conhecimento a respeito de algum tema. E justamente por ser uma enciclopédia que foge à tradição da pesquisa calcada em metodologia precisa, ela se liberta e me remete aos causos contados pelos meus avós, que em sua maioria nada mais eram que a somatória dos fatos presenciados por eles e dos fragmentos de imaginação que amarravam os mesmos fatos, tornando-os muitas vezes melhores e instigantes.
É mais ou menos assim que eu vejo os romances: uma coletânea feita de cacos de espelho que refletem os mundos dos que vivem presos à mesma teia e os mundos possíveis que ganham verdade nas palavras. Mais que os fatos, me interesso pelo que é possível ver e sentir entre eles. As lunetas têm o seu valor, mas são os caleidoscópios e os seus desdobramentos que acariciam os meus dedos nas madrugadas em que o verbo toma o sentido que quiser.