(...) Se é mesmo possível que a morte de uma estrela possa provocar o nascimento de outras, seus olhos deviam estar cheios de estrelas mortas. Fui me aproximando lentamente do trono, reparando em cada detalhe de sua figura, sua palidez imaculada, seu olhar soturno e suas vestes negras como a noite. Ia tocá-lo quando acordei de repente. Madrugada. Silêncio. Demorei a entender, mas entendi. Ele não permitiria. É consciente demais do seu trabalho, da sua responsabilidade e importância, sejam elas quais forem. Caminharemos todos em seu reino, mas não deixaremos os nossos lares. Há alguma verdade nisso, há algum mistério que ele jamais dirá, e terei que me conformar. Seu reino será sempre o refúgio, jamais a morada. Abri em meio às lágrimas secas uma revista qualquer, dessas sobre avanços científicos e li em alguma página que todos nós, feitos de carbono, oxigênio e outros tantos elementos químicos somos poeira de estrelas mortas. Olhei para o céu lá fora e o céu estava todo estrelado.