
E ele não me diz o que fazer. Apenas me aceita quando abro os olhos, e estende os braços - "Caminhe por aqui, escolha a trilha que quiser". E ele não me impõe regras, e me interpreta como pássaro que já fui, e enxerga a cera que escorre das asas de Ícaro, deixadas em alguma outra vida. Ele sabe que quem voa uma vez vai desejar as alturas até que o mundo se consuma, e entende os mistérios que estão além de mim. A ele deixo os meus sonhos e segredos, ele os guarda, mas não tira deles o pó. "Isso cabe a você, e apenas a você". Ele entende tanto quanto eu que a solidão não faz de ninguém sozinho, e talvez por essa razão não me consola como um adulto faz à criança perdida, porque ele compreende, às vezes é preciso se perder para se encontrar. Ele apenas me dá o prazer de sua companhia - mesmo quando ela inexiste -, e permite que eu explore o seu mundo como eu exploraria o meu. É desprendido, bem sei. E eu o agradeço por isso. Agradeço por encontrá-lo todas as noites, mesmo que nem sempre eu me lembre.
E quando fecho meus olhos aqui, abro meus olhos lá.
E sim, me sinto bem.
Simples assim...