sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Morceguice

Santa morceguice, Batman!

Tenho um morcego de estimação.
Eu poderia continuar acreditando que se trata de um devaneio. Eu poderia culpar os filmes de terror que tenho assistido durante a semana, ou ainda o Batman, que tem sido comentado até pelos que não apreciam quadrinhos, mas não dispensam um bom filme. Entretanto, não seria correto negar o fato: tenho um morcego de estimação. Há três noites ele voa entre a sala e o banheiro, planando silenciosamente pelo corredor que liga os dois cômodos; faz seus vôos durante a madrugada, em que Lulu Harvey está enfurnada debaixo do edredom e eu assisto meus filmes na escuridão. Já procurei pelo bicho em todos os lugares - vasculhei o teto e o chão, a sombra e a luz, mas nunca o encontro. Apenas o vejo entre um vôo e outro, o resto é mistério.
Achei curioso o fato de um morcego ter adotado meu refúgio como seu. Lembrei de uma crônica que a Fernanda Takai escreveu quando sua casa serviu de moradia para uma coruja (ela chamou a crônica de Corujice). Nela, Fernanda refletia com leveza e poesia sobre como aquela presença a afetou. Pesquisou (na Wikipedia?) sobre os hábitos e associações ligados às corujas e encerrou sua crônica otimista de que aquela criatura poderia trazer luz a sua vida.
Não ando doce e poético como a senhora Pato Fu, mas decidi também pesquisar (sim, na Wikipedia) sobre os hábitos e associações do meu mais novo animal de estimação. Eis o que descobri: Os morcegos são os únicos animais mamíferos (da ordem Chiroptera) capazes de voar. Alimentam-se de frutas, néctar, pólen, pequenos vertebrados (que Lulu Harvey não saiba disso). Somente os morcegos hematófagos (encontrados na América Latina e México) se alimentam de sangue. Possuem um extraordinário sentido de ecolocalização ou ainda orientação por ecos, que utilizam para voar por entre obstáculos ou para caçar suas presas. São considerados sagrados em Tonga e na África Ocidental, e frequentemente são considerados como manifestação física de uma alma separada. Estão culturalmente relacionados com os vampiros, que tradicionalmente são capazes de se metamorfosearem em morcegos. São também símbolo de fantasmas, morte e doença. A tradição chinesa afirma que o morcego é um símbolo de longevidade e felicidade, bem como na Polônia, na região da Macedônia e entre os árabes e kwakiutls. Na cultura ocidental o morcego é frequentemente associado à noite e à sua natureza proibida.
Isso tudo me fez pensar na coruja da senhora Pato Fu, nos valores que lhe são atribuídos, e no meu pequeno morcego, que agora mesmo voa pela escuridão do meu refúgio. Que ele continue planando, ficando apenas longe do meu coração sobre a estante. E que o paradoxo simbólico atribuído a ele me ajude a entender as minhas próprias contradições.
Uma vez alguém me disse: "Cada um tem o animal que merece". Se assim for, acho que posso me dar por satisfeito.