
Acordou com o som da trovoada - 15:32 e nenhuma vontade de sair daquela cama zoneada.
Ouviu o trânsito lá fora, o barulho forte da chuva.
Espreguiçou-se tão demoradamente que sentiu por alguns segundos uma leve excitação entre as pernas. Olhou através da janela pensando em mil coisas, pensando em nada. Seus pensamentos alinharam-se de uma só vez: Café!
Acendeu um cigarro e foi à cozinha, trocando passos como um filhote de cachorro desengonçado. Serviu-se de café e sentiu lentamente o efeito animador da cafeína enquanto mirava distraído o imbé vistoso que caía em cascata ao lado da porta. Não vou trabalhar hoje, pensou decidido. Inventaria uma gripe e conseguiria um atestado com algum médico, amigo de algum amigo.
Foi até a TV e passeou pelos canais. Nada, nada e nada...
Pegou o livro sobre a mesa, página 139: "...e as carruagens subiram o imponente caminho oscilando perigosamente sob uma chuva que parecia estar virando tromba d’água..." Deus! Até no livro chove, pensou. Largou-o no chão e voltou a passos lentos em direção aos travesseiros amassados.
Esparramou-se de uma só vez, deixando os minutos passarem suavemente pelo relógio.
Começou a reparar no teto e instantes depois estava a contemplar as rachaduras quase imperceptíveis que sequer notara antes. Começava a contá-las quando o telefone tocou estridente.
- Olá! - gritou um amigo animado.
- Oi - respondeu tão baixo que o amigo continuou esperando uma resposta.
- Chuva forte essa! Se à noite a chuva parar, anima dar uma saída? Que tal aquele café que você gosta? - perguntou o amigo num grito.
- Hoje não... - disse ele seco e desligou o telefone de qualquer jeito.
Voltou a contar as rachaduras quando ouviu o chão tremer sob patas fortes e desengonçadas que rumavam inevitavelmente em sua direção. Não!!! Tarde demais, o cachorro já havia esparramado seu corpo pesado pela cama como se fosse rei e aquele seu reino. Pensou em expulsá-lo, gritar até assustá-lo, mas a preguiça falou mais forte. Além do mais, do que adiantava?! Ele sempre voltava; em sua mente canina era o dono do reino zoneado de edredom e travesseiros, ponto. Dedilhou os pêlos amarelos do cão e foi surpreendido por rápidas lembranças. Lembrou-se de uma noite no café, dos amigos rindo à toa, de uma camisa listrada - andava pra lá e pra cá; lembrou-se de sorrisos sinceros, tatuagens escondidas e all star gasto; dos pequenos gestos secretos que talvez só ele perceba e que fazem as noites tão especiais.
A chuva parecia não ter fim, suas gotas caíam grossas como granito. Linda a chuva. Lindo seu som, sempre. Pensou no que poderia escrever. Sem idéias. Sem idéias... Iria ao café, concluiu decidido. Tomaria um banho quente, vestiria-se e correria até o café, mas não sem antes tomar goles e goles de cafeína açucarada. Apagou o cigarro.
Viu o cachorro bocejar e sem que percebesse fez o mesmo. Caminhou pela cozinha - passadas lentas – e serviu-se de café. Pensou: Pronto! Agora sim! Agora posso finalmente acordar!
Acordou com o som da trovoada - 15:32 e nenhuma vontade de sair daquela cama zoneada...
Ouviu o trânsito lá fora, o barulho forte da chuva.
Espreguiçou-se tão demoradamente que sentiu por alguns segundos uma leve excitação entre as pernas. Olhou através da janela pensando em mil coisas, pensando em nada. Seus pensamentos alinharam-se de uma só vez: Café!
Acendeu um cigarro e foi à cozinha, trocando passos como um filhote de cachorro desengonçado. Serviu-se de café e sentiu lentamente o efeito animador da cafeína enquanto mirava distraído o imbé vistoso que caía em cascata ao lado da porta. Não vou trabalhar hoje, pensou decidido. Inventaria uma gripe e conseguiria um atestado com algum médico, amigo de algum amigo.
Foi até a TV e passeou pelos canais. Nada, nada e nada...
Pegou o livro sobre a mesa, página 139: "...e as carruagens subiram o imponente caminho oscilando perigosamente sob uma chuva que parecia estar virando tromba d’água..." Deus! Até no livro chove, pensou. Largou-o no chão e voltou a passos lentos em direção aos travesseiros amassados.
Esparramou-se de uma só vez, deixando os minutos passarem suavemente pelo relógio.
Começou a reparar no teto e instantes depois estava a contemplar as rachaduras quase imperceptíveis que sequer notara antes. Começava a contá-las quando o telefone tocou estridente.
- Olá! - gritou um amigo animado.
- Oi - respondeu tão baixo que o amigo continuou esperando uma resposta.
- Chuva forte essa! Se à noite a chuva parar, anima dar uma saída? Que tal aquele café que você gosta? - perguntou o amigo num grito.
- Hoje não... - disse ele seco e desligou o telefone de qualquer jeito.
Voltou a contar as rachaduras quando ouviu o chão tremer sob patas fortes e desengonçadas que rumavam inevitavelmente em sua direção. Não!!! Tarde demais, o cachorro já havia esparramado seu corpo pesado pela cama como se fosse rei e aquele seu reino. Pensou em expulsá-lo, gritar até assustá-lo, mas a preguiça falou mais forte. Além do mais, do que adiantava?! Ele sempre voltava; em sua mente canina era o dono do reino zoneado de edredom e travesseiros, ponto. Dedilhou os pêlos amarelos do cão e foi surpreendido por rápidas lembranças. Lembrou-se de uma noite no café, dos amigos rindo à toa, de uma camisa listrada - andava pra lá e pra cá; lembrou-se de sorrisos sinceros, tatuagens escondidas e all star gasto; dos pequenos gestos secretos que talvez só ele perceba e que fazem as noites tão especiais.
A chuva parecia não ter fim, suas gotas caíam grossas como granito. Linda a chuva. Lindo seu som, sempre. Pensou no que poderia escrever. Sem idéias. Sem idéias... Iria ao café, concluiu decidido. Tomaria um banho quente, vestiria-se e correria até o café, mas não sem antes tomar goles e goles de cafeína açucarada. Apagou o cigarro.
Viu o cachorro bocejar e sem que percebesse fez o mesmo. Caminhou pela cozinha - passadas lentas – e serviu-se de café. Pensou: Pronto! Agora sim! Agora posso finalmente acordar!
Acordou com o som da trovoada - 15:32 e nenhuma vontade de sair daquela cama zoneada...