
Um escritor acende um cigarro, faz arder os neurônios, sangrar o coração e entre o cinismo e o melodrama escreve a sua estória. E quem escreve as estórias de quem vive a vida? Em quais páginas preenchidas de suor, sangue e tinta estarão as estórias das Marias, Fábias, Marcelos, Pedros e Sylvia(s)? Já li em algum lugar que os escritores escrevem por terem a consciência (mesmo que essa não seja tão consciente quanto aparenta) de que os livros são eternos; de que aquelas palavras choradas, escritas, manchadas e impressas serão as pequenas grandes marcas - as tais marcas no mundo. Se assim for, o que acontece com os malditos e as palavras não escritas? O que acontece com os escritores não lidos, os poetas não escutados, e os filmes não exibidos? O tempo não varre tudo, exceto as lembranças? Mas as lembranças não são eternas, ao contrário dos muros. O que estou dizendo?! Os muros são derrubados, e os cinemas preferidos dos meus avós agora são da Igreja Universal. Marjane é uma dessas que poderia não ter contado sua história. Mas ela conseguiu, e agora é eterna. Ele traga o cigarro. Ela expira a fumaça. Veja só quanta poesia! Quantas outras desse tipo existirão por aí? Por isso penso que é lamentável saber que a maioria das estórias não vai ser contada. Mas é bom saber que algumas encontram seus caminhos - sua tinta, olhos, e destino. E quando valem a pena, entendo porque são imortais.