Quando ela sente, denuncia no olhar. Nas formas de gota em que se transformam os seus olhos. A cauda se põe a mexer, como um pêndulo de relógio antigo, e as patas se juntam, quase como um gesto de súplica; mas é o seu olhar que fala ao meu: preciso da sua atenção. Na mesma hora descanso o cigarro, e deixo a cerveja esquentar - vou até ela e dedilho os seus pelos. A cauda se agita, os olhos se abrem. E ela fica em paz.
Quando eu sinto, não denuncio no olhar. Tampouco nas mãos e pernas, não suplico como quem ora. Quando eu sinto, deito minha cabeça e quero distância. Mas sinto quando ela se aninha ao meu lado; não diz nada, tampouco dedilha os meus cabelos. Apenas se volta na minha direção, e com os mesmos olhos suplicantes lambe o sal que escorre de mim.